quarta-feira, 24 de julho de 2013

Exercícios

A volta do caderno rabugento

            Não sei se vocês se lembram de quando lhes falei, acho que no ano passado, num caderninho rabugento que eu mantenho. Aliás, é um caderninho para anotações diversas, mas as únicas que consigo entender algum tempo depois são as rabugentas, pois as outras se convertem em hieróglifos indecifráveis (...), assim que fecho o caderno. Claro, é o reacionarismo próprio da idade, pois, afinal, as línguas são vivas e, se não mudassem, ainda estaríamos falando latim. Mas, por outro lado, se alguém não resistir, a confusão acaba por instalar-se e, tenho certeza, a língua se empobrece, perde recursos expressivos, torna- se cada vez menos precisa.
            Quer dizer, isso acho eu, que não sou filólogo nem nada e vivo estudando nas gramáticas, para não passar vexame. Não se trata de impor a norma culta a qualquer custo, até porque, na minha opinião, está correto o enunciado que, observadas as circunstâncias do discurso, comunica com eficácia. Não é necessário seguir receituários abstrusos sobre colocação de pronomes e fazer ginásticas verbais para empregar regras semicabalísticas, que só têm como efeito emperrar o discurso. Mas há regras que nem precisam ser formuladas ou lembradas, porque são parte das exigências de clareza e precisão - e essas deviam ser observadas. Não anoto, nem tenho qualificações para isto, com a finalidade de apontar o "erro de português", mas a má ou inadequada linguagem.
            E devo confessar que fico com medo de que certas práticas deixem de ser modismo e virem novas regras, bem ao gosto dos decorebas. É o que acontece com o, com perdão da má palavra, anacolutismo que grassa entre os falantes brasileiros do português. Vejam bem, nada contra o anacoluto, que tem nome de origem grega e tudo, e pode ser uma figura de sintaxe de uso legítimo. O anacoluto ocorre, se não me trai mais uma vez a vil memória, quando um elemento da oração fica meio pendurado, sem função sintática. Há um anacoluto, por exemplo, na frase "A democracia, ela é a nossa opção". Para que é esse "ela" aí?
            Está certo que, para dar ênfase ou ritmo à fala, isso seja feito uma vez ou outra, mas como prática universal é meio enervante. De alguns anos para cá, só se fala assim, basta assistir aos noticiários e programas de entrevistas. Quase nenhum entrevistado consegue enunciar uma frase direta, na terceira pessoa - sujeito, predicado, objeto - sem dobrar esse sujeito anacoluticamente (perdão outra vez). Só se diz "o policiamento, ele tem como objetivo", "a prevenção da dengue, ela deve começar", "a criança, ela não pode" e assim por diante. O escritor, ele teme seriamente que daqui a pouco isso, ele vire regra. (...)
            Finalmente, para não perder o costume, faço mais um réquiem para o finado "cujo". Tenho a certeza de que, entre os muito jovens, a palavra é desconhecida e não deverá ter mais uso, dentro de talvez uma década. A gente até se acostuma a ouvir falar em espécies em extinção, mas, não sei por que, palavras em extinção me comovem mais, vai ver que é porque vivo delas. E não é consolo imaginar que o cujo e eu vamos nos defuntabilizar juntos.

(João Ubaldo Ribeiro, O Estado de São Paulo, 18/07/2010)


1. (Insper 2011)  No processo de formação das palavras, os sufixos desempenham importante papel na produção dos efeitos de sentido. Identifique, dentre as palavras extraídas do texto, aquela em que o sufixo não tem sentido pejorativo.
a) reacionarismo   
b) modismo   
c) decorebas   
d) anacolutismo   

e) defuntabilizar   


Resposta da questão 1: [E]

Em “defuntabilizar”, o sufixo não tem sentido depreciativo. Trata-se de um recurso linguístico gerador de um neologismo, verbo derivado a partir da adjunção do sufixo –izar à base adjetiva defunto e que exprime “ação de tornar-se” (o cujo e eu vamos nos tornar defuntos juntos).  

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Texto I

A última crônica

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, 1deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. 4Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. 5Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. 6O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
7São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, 2a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você...” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – 3ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. 8Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

SABINO, Fernando. A Companheira de Viagem. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1965.

Texto II

O sorriso da comissária

Eu viajava no meu habitual voo Rio de Janeiro-Salvador. Ir à Bahia me renova e me inaugura todas as vezes, mesmo que a vez seja curta e parca. Às vezes, algo estranho se anuncia e me revela recantos meus desconhecidos no meu labirinto. De repente, me surpreende e me assalta a decifração de algum enigma em que eu me guardava debaixo das muitas sete chaves magras e sedentas. Naquele voo, a um certo instante, senti que se prenunciava um desvelamento, com tudo que tinha de ameaçador. Medo? Eu me preparei para o inevitável.
A comissária ia e vinha, desfolhada em sorrisos para nós, passageiros desprevenidos. Eu disse que ela ia e vinha em sorrisos, mas não eram muitos, era um único sorriso mesmo, que também ia e vinha, 5à medida que ela se voltava para um e para outro passageiro, está tudo bem? precisa de alguma coisa? se precisar, é só chamar, estou às ordens, e você? não faça cerimônia, estou aqui para servir, ah, como aquele excesso me incomodava, ela se demasiava. Orgulho de se sentir indispensável ou mera carência de afeto, a comissária começava a se expor diante de todos. 11Ninguém percebia que, ocultamente, algo se mostrava, perturbando a neutralidade confortável da aeronave.
Iniciado o serviço do almoço, a cada passageiro ela estendia o mesmo sorriso carnudo que lhe saía da vasta boca pintada de batom muito e demais vermelho. Boca sempre aberta, mesmo quando fechada. Boca que crescia e engordava, cada vez que ela se inclinava, perto da altura de cada boca sentada em cada poltrona. Por favor [boca gentil]. Aceita? [mais boca, gentil demais]. Bom apetite [simultaneamente, gentil mais e boca mais].
9As bocas comiam, todas sem presságios. 1De prontidão sob o batom vermelhento, a boca da comissária se justificava e se ajustava ao tamanho dos dentes. Todos os dentes, invisíveis não havia, visíveis numa coreografia feroz, de ritmo igual ao sorriso invicto, desde a entrada na aeronave, sim, desde o início dos tempos. 6Aquela mulher, fora de seu voo, teria alguém para quem sorrir? Saberia sobreviver sem a abundância do sorriso gordo, atropelado de dentes copiosos? Solidão solitária, solamente só e solo, sola.
Em que boca de homem caberia tal aquela boca? Difícil é amor com sorriso tão volumoso e sem canais para emergir do fundo. 7Antes de pegar a bandeja cada seguinte, para cada seguinte senhor passageiro, naquela minimíssima fração de segundo, ela rangia todos os dentes, todos cada dente. Rápida, mais rangia. Ódio ou medo, abandono ou traição, não, ela não podia ser esposa nem namorada nem a outra de nenhum marido frustrado. 10Depois de rangido todo o ódio, 2o sorriso vermelhudo se apossava da aeronave, dos passageiros e dos tripulantes.
Diante da bandeja, não, obrigada, eu não quero almoçar, encolhida-me na poltrona, o rosto colado na janelinha coberta de nuvens. Não tolerava assistir, ante meu olhar espremido, ao desvendamento daquele desarvorado enigma. 8Olhei assustada os outros passageiros. Todos comiam nas suas bocas desavisadas. Por que eu, somente eu, invadi aquele secreto recesso de tanto ressentimento? Ela prosseguia no implacável ritual. Entre um rápido ranger de dentes e as demoradas mesuras. 4Pura urgência de novamente 3se esconder atrás do sorriso gorduroso, vermelhoso, agarrado nos dentes escandalosos, enquanto se inclinava e se curvava e quase se ajoelhava.
Nenhuma vez eu sorri, contorcida nos meus próprios dentes que não rangiam e na minha boca transversal ao rosto. Vergonha de, sem prévio consentimento, haver penetrado num segredo de vida ou de morte? Culpa por não poder sequer pedir desculpas pela profanação? Talvez eu recuasse tanto atrás de minha boca intransponível, por mero horror à cumplicidade, após o horror da decifração.

CUNHA, Helena Parente. Vento, ventania, vendaval: contos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Salvador: Fundação João Fernandes da Cunha, 1998.

Texto III

Goleiro Bruno ri ao ser xingado de assassino
Ministério Público vai pedir internação do adolescente pelo sequestro de Eliza

Por Christina Nascimento

Contagem (Minas Gerais) – O Ministério Público (MP) de Minas Gerais vai requerer à Justiça que o menor 1J., de 17 anos, responda pelo crime de sequestro e que seja internado para aplicação de medida socioeducativa. O adolescente esteve ontem frente a frente com quatro acusados de participação no desaparecimento de Eliza Samudio: seu primo, o goleiro Bruno; Luiz Henrique Romão, o Macarrão; o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola; e Sérgio Rosa Sales, único que se dispôs a prestar esclarecimentos. Entre as testemunhas, o atleta era quem aparentava mais calma. Como tem feito desde que foi preso, ele não abaixou a cabeça ao aparecer em público. 2Desta vez, ele ainda sorriu ao ser xingado de assassino pelos curiosos que se concentravam em frente à Vara da Criança e Adolescente em Contagem, onde aconteceu a audiência.


Segundo o promotor da Infância e Juventude, Leonardo Barreto Moreira Alves, está comprovada a participação do menor no sequestro de Eliza, e já há elementos suficientes para pedir a internação do garoto, considerada a punição mais grave pelo Estatuto da Criança e Adolescente. Se a Justiça acatar a solicitação do Ministério Público, J. ficará detido por pelo menos seis meses e, no máximo, três anos.
“Por enquanto, não vou entrar no homicídio, e na ocultação de cadáver. Na versão do menor, ele não participou, mas o MP está analisando isso ainda. O fato de assistir pode consistir, sim, em responsabilidade no assassinato”, explicou Leonardo Barreto. Hoje termina o prazo de 24 horas que a promotoria tem para apresentar alegações finais do caso. Em seguida, será a vez de a defesa do menor fazer o mesmo procedimento. A previsão é de que sentença saia até quarta-feira.

O DIA Online. 23 de julho de 2010. 02h42min. Disponível em: http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2010/7/goleiro_bruno_ri_ao_ser_xingado_de_assassino_98196.html


2. (G1 - ccampos 2011)  Em textos literários, é comum que os autores se valham de recursos linguísticos diversos que conferem maior expressividade aos textos. É o caso do emprego de neologismos, nome dado à criação de vocábulos novos na língua. Observe os seguintes exemplos extraídos do texto II:

“De prontidão sob o batom vermelhento (...).” (ref.1)
“(...) o sorriso vermelhudo se apossava da aeronave (...).” (ref.2)
“(...) se esconder atrás do sorriso gorduroso, vermelhoso (...).” (ref.3)

Sobre os neologismos destacados acima, é lícito afirmar que:
a) são formados a partir do processo de composição, pela justaposição de radicais de origem estrangeira.   
b) são palavras tradicionalmente existentes na língua, porém agora empregadas sem indícios de significação.   
c) são constituídos a partir de um mesmo radical, ao qual se adicionam sufixos já disponíveis na língua portuguesa.   
d) são incorreções gramaticais, uma vez que a autora do texto não tem autonomia para inovar o léxico de sua língua. 



Resposta da questão 2:
 [C]

Os neologismos, muitas vezes, constroem-se com auxílio dos mecanismos usuais de produção lexical, como a derivação, geralmente por sufixação, como em “vermelhento”, “vermelhudo” e “vermelhoso”, constituídos pelo radical vermelh e os sufixos ento, udo e oso que acrescentam ação intensificadora e de abundância ao adjetivo vermelho.  
  
Exercícios
Leia a sequência de tirinhas abaixo para responder às questões 01 e 02.


QUESTÃO 01
Assinale a alternativa INCORRETA:
(A) A expressão ‗rabo preso‘, literalmente representada na primeira tirinha, compreende a idéia de ‗estar comprometido ilicitamente‘.
(B) Na segunda tirinha, o apresentador faz uso irônico da palavra ‗solidários‘.
(C) Na sequência de tirinhas, os políticos são adjetivados de ‗trapezistas‘, ‗mágicos‘ e ‗palhaços‘.
(D) A sequência de tirinhas intenciona modificar o comportamento do eleitor.
(E) A sequência de tirinhas pode também vir a modificar o comportamento dos políticos.

Resposta C

QUESTÃO 02
Considere as afirmações a seguir:
I. Na sequência de tirinhas, vemos uma mescla de discurso direto e discurso indireto.
II. O discurso direto representa a fala do personagem, enquanto o indireto reporta a fala do personagem.
III. No último quadro da sequência de tirinhas, a palavra ―FIM‖ tem duplo sentido: de ‗fim da história‘ e de ‗pôr fim às enganações dos políticos‘.
Assinale a alternativa CORRETA:
(A) Apenas I está correta.
(B) Apenas III está correta.
(C) Apenas I e II estão corretas.
(D) Apenas II e III estão corretas.
(E) Nenhuma afirmação está correta.

Resposta D

Leia os provérbios a seguir para responder à questão 07.
Antes que cases, olha o que fazes.
Quem casa não pensa, quem pensa não casa.
Procura e acharás.
Quem procura acha.
Se queres bom conselheiro, procura o travesseiro.
A noite é boa conselheira.

QUESTÃO 03
Assinale a alternativa INCORRETA quanto à leitura discursiva e gramatical dos provérbios:
(A) Os provérbios são expressos de modo pessoal e impessoal, como podemos ver respectivamente nos exemplos: ―Se queres bom conselheiro, procura o travesseiro‖ e ―A noite é boa conselheira‖.
(B) A opção pela impessoalidade no ato de citar um provérbio reflete a tendência de quem enuncia de não se envolver diretamente com o dito. É o caso de ―Antes que cases, olha o que fazes‖.
(C) Os provérbios com marcas pessoais tratam de um discurso predominantemente centrado no enunciador, ou seja, em quem diz o dito. É o caso de ―Procura e acharás‖ e ―Se queres bom conselheiro, procura o travesseiro‖.
(D) O uso de provérbios revela um discurso de autoridade, ou um discurso autoritário: eles provêm de uma sabedoria popular anônima.
(E) Em ―Procura e acharás‖, a classificação modo-temporal de acharás é futuro do presente do indicativo; forma hoje em desuso na oralidade no português brasileiro.

Resposta B

A estrutura das palavras 

Palavra
é uma unidade linguística de som e significado que entra na composição dos enunciados da língua.

Os elementos mórficos

Morfemas
São unidades mínimas de significação.

Os falantes de qualquer língua conhecem e usam um número enorme de palavras, ao longo de sua vida. Essas palavras constituem o léxico de cada falante, ou seja, o repertório total de palavras que ele conhece.
Algumas palavras fazem parte do léxico de todos os falantes, outras, no entanto, fazem parte do repertório de apenas algumas pessoas, pois se referem a objetos ou conceitos que não estão presentes na vida de todos. As palavras podem ser divididas em elementos menores, dotados de significação. Esses elementos são chamados de Morfemas.

Analise os exemplos desse conjunto:

pedra, pedrinha, pedregulho, pedreiro, pedregoso.

O primeiro aspecto estrutural que chama a nossa atenção, nas palavras acima é que apresentam um significado básico. Essas partes que se repetem são os morfemas que recebem o nome de radicais.

Afixos são os morfemas que, somados aos radicais, formam novas palavras. Quando acrescentados antes do radical são chamados de prefixos, e adicionados após o radical de sufixos.

Exercícios



INSTRUÇÃO: O texto abaixo é parte da campanha publicitária de um analgésico veiculada na mídia impressa no
mês de maio deste ano. Leia-o para responder às questões de 01 a 03.
Em homenagem ao Dia das Mães,
deixamos prontas as respostas para as perguntas que mais dão dor de cabeça.
1. Mamãe, de onde eu vim?
R: Da cegonha.
2. Mamãe, a professora disse que a cegonha não existe. É
verdade?
R: Ei, olha lá um boi voando!
3. Mamãe, como eu saí de dentro de você?
R: Então, lembra a cegonha que a professora disse que
não existe?
Aliás, qual o nome da sua professora?
4. Mamãe, o que aconteceu com o vovô?
R: Ele se mudou para um país que não tem correio,
telefone, fax, celular, nem orkut.
5. Mamãe, por que eu não posso beijar minha prima?
R: Porque você vai virar um sapo se beijar.
6. Mamãe, por que minha irmã diz que não pediu para
nascer e se tranca no quarto?
R: Você vai entender quando tiver 15 anos.
7. Mamãe, o que significa “aqueles dias”?
R: É quando o papai deixa a mamãe ficar com o controle
remoto da TV.
8. Mamãe, por que eu não posso dizer “* ڇ ې Ỗ”?
R: Pode dizer, sim.
Mas você sabe que isso quer dizer “não quero
sobremesa”?
9. Mamãe, por que o Papai Noel tem barba falsa?
R: Porque ele é procurado pelo FBI.
10. Mamãe, o que é troca de casais?
R: Cadê seu pai, hein?
11. Mamãe, como o Modernismo antropofágico da Semana
de 22 contribuiu para o caráter conformista do
brasileiro?
R: Olha lá, um boi voando!
Há mais de 100 anos, Aspirina da Bayer vem pesquisando novas soluções para o alívio das
diversas dores de cabeça. Até aquelas mais fofinhas, cheias de bochechas rosadas e perguntas
cabeludas que fazem a vida valer a pena. Um feliz Dia das Mães a todas as mães do Brasil.

QUESTÃO 01
A respeito dos sentidos construídos no texto, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
( ) O produtor do texto considera deixar prontas as respostas uma forma de homenagear as mães, facilitando-lhes a vida em
relação à curiosidade dos filhos pequenos.
( ) Levando em conta o contexto, a expressão dor de cabeça pode ser entendida como uma dificuldade materna e como dor
física.
( ) A figura de mãe criada pela propaganda é constituída de diversos perfis de mãe, entre eles o autoritário, a exemplo do
diálogo 8.
( ) O produtor do texto usa como argumento de persuasão qualidades intrínsecas do produto em destaque – um analgésico.
Marque a seqüência correta.
A) V, F, F, V
B) V, V, F, F
C) V, V, V, F
D) F, V, V, F
E) F, F, V, V

Resposta alternativa C

QUESTÃO 02 

Sobre o diálogo 11, assinale a afirmativa INCORRETA. 
A) No diálogo 11, o protótipo de filho é diferente do dos demais diálogos. 
B) A resposta da mãe sugere que, independente da idade do filho, o “comportamento de mãe” é o mesmo. 
C) Por não fazer parte do universo infantil e familiar e por ser um enunciado lingüisticamente mais complexo, a pergunta se diferencia 
das demais e causa estranhamento ao leitor. 
D) A resposta da mãe pode ser entendida como desconhecimento do Modernismo antropofágico da Semana de 22. 
E) Esse diálogo encerra a lista de perguntas e respostas por apresentar-se um corolário, uma dedução delas. 

Resposta alternativa B


Os níveis da descrição gramatical

Os estudos gramaticais dedicam-se a analisar os diferentes níveis de organização das línguas naturais. Cada uma das partes da gramática corresponde ao estudo de um dos seguintes níveis:

Fonológico: Estuda os fonemas da língua, suas possibilidades de combinação em sílabas e a relação que eles mantêm com as letras na escrita alfabética.

Morfológico: Estuda as classes de palavras, suas flexões e processos de formação.

Sintático: Estuda as funções e relações das palavras nas sentenças da língua.

Semântico: Estuda o significado das palavras, as relações de sentido que entre elas se estabelecem e sua organização em um léxico.


A gramática e suas partes

Não existem línguas mais "simples" ou mais "complexas"

Letras ao léu

Falam-se cerca de 6 000 idiomas no mundo. Um novo livro mostra essa fascinante diversidade e revela que muitos estão próximos da extinção.

por Jerônimo Teixeira / Adriano 

  Você já deve estar acostumado a alertas sobre as crescentes ameaças à biodiversidade do planeta. Os ambientalistas costumam traduzir seus números em bases temporais: a cada dia, tantos hectares de floresta são devastados na Amazônia; a cada hora, tantas espécies animais são extintas. Esse expediente é um modo bastante incisivo de traduzir a urgência do problema. Descobrimos que a devastação não é um processo de longo curso, que a catástrofe está acontecendo agora mesmo, enquanto tomamos café ou vemos televisão. Pois bem, eis um novo e alarmante dado: a cada duas semanas, uma língua desaparece da Terra.
  [...] A noção que temos do português é a de algo firmemente estabelecido pela palavra impressa – seja nesta revista ou em uma página clássica de Machado de Assis – e defendido pelas instituições escolares onde ainda aprendemos a conjugar a segunda pessoa do plural. A segunda língua que aprendemos na escola ou em cursinhos (geralmente inglês) costuma ser tão ou mais estável que o português.
  Que uma língua possa estar morrendo agora, nesse exato instante, parece mais difícil de conceber do que a extinção de uma espécie animal. Os números são claros: existem hoje cerca de 6000 línguas em todo o mundo. A estimativa é de que 90% delas estarão extintas em 2100. Ou seja, 5500 línguas vão morrer neste século.
  Esses números foram retirados de The Power of Babel – A Natural History of Language (O Poder de Babel – Uma História Natural da Linguagem, sem tradução no Brasil), do lingüista norte-americano John McWhorter, da Universidade de Berkeley. É um livro interessantíssimo e em certo sentido inovador. Em algumas áreas científicas, já existe uma tradição firme e lucrativa de obras de divulgação – pense em Stephen Jay Gould, na biologia, ou em Stephen Hawkins, na física. A lingüística ainda não tem todo esse ibope, mas seu potencial está bem representado em The Power of Babel. McWhorter mostra a fascinante riqueza alcançada pela linguagem humana.

Em vista desse dinamismo, os números tornam-se confusos, indecisos. Acima foi afirmado que existem cerca de 6000 línguas no mundo hoje. Bom, não estamos contando os dialetos, que no mínimo arredondariam o número para 10000. Na verdade, do ponto de vista técnico, não existem critérios lingüísticos para diferenciar língua e dialeto. Tomemos o alemão como exemplo. A língua que você pode aprender em cursos no Brasil é o chamado “Alto Alemão” (Hochdeutsch), que foi fixado no século XVI na famosa tradução da Bíblia por Martinho Lutero. O Hochdeutsch aparece em livros e jornais, mas, nas ruas, é quase uma abstração. Cada região da Alemanha tem sua variedade lingüística. O alemão que se fala na Suábia não é o mesmo que se encontra na Baviera. As diferenças entre cada um desses dialetos são muitas vezes maiores do que aquelas que encontramos entre o espanhol e o português.
  E no entanto ninguém pensaria em sugerir que o português é um dialeto do espanhol. “Já foi dito que um dialeto torna-se uma língua quando tem um exército e uma marinha para sustentá-lo. É tudo uma questão de poder político”, explica o lingüista inglês David Crystal, autor de The Death of Languages (A Morte das Línguas, sem tradução no Brasil). Ele cita um exemplo: “Em 1990, o servo-croata era usado na Sérvia, na Bósnia e na Croácia, em diferentes dialetos. Dez anos depois, com a independência, temos três línguas independentes lá”.
  A distinção entre idiomas é ainda mais complicada em linhas históricas amplas. O latim deu origem às línguas românicas, mas as pessoas não acordaram um dia e descobriram que estavam falando uma língua nova chamada francês. O processo foi lento e acidentado, com muitos estágios intermediários em que o latim vulgar já não era mais a língua de Cícero e ainda não era o idioma de Montaigne. The Power of Babel explica em linhas gerais alguns processos básicos através dos quais uma língua se modifica ao longo do tempo até o ponto em que já não seria inteligível para interlocutores do passado – isto é, até tornar-se uma nova língua. Um dos mais simples é a erosão fonética: sílabas não-tônicas no meio de uma palavra correm o risco de desaparecer na fala cotidiana. É assim que o latim femina foi dar no francês femme. Mulher, em português, vem de outra palavra, mulier, cuja acepção original era a de “mulher casada”.
  É um exemplo de outro processo: a mudança semântica, no caso tornando mais amplo um sentido originalmente restrito (de mulher casada para mulher em geral). Ao longo do tempo, também acontecem fusões, em que uma palavra inteira é “comida” por outra, a ponto de se tornar apenas uma declinação (isto é, uma terminação indicando número, pessoa ou gênero). Cantare habeo, no latim clássico, queria dizer “tenho de cantar”. A mesma estrutura tornou-se o modo de expressar o tempo futuro no latim vulgar. Foi assim que as línguas românicas adquiriram suas conjugações. O “ei” no final do português “cantarei” e o “ò” do italiano “canterò” são resquícios do habeo engolido pela nova forma verbal.
  Nessas mudanças, há muito de acidental e arbitrário. É por isso que não existem línguas lógicas. Todas carregam uma quantidade enorme e – do ponto de vista estrito da comunicação – desnecessária de tralha gramática. Para os falantes nativos, certas noções estão tão arraigadas que é difícil perceber como são supérfluas. A diferença entre ser e estar parece óbvia e obrigatória para todos nós, mas em inglês e alemão há um só verbo (to be e seinen, respectivamente) englobando as duas noções. Inglês, alemão, francês, português têm artigos definidos e indefinidos, que não existem em russo (e não existiam no latim). A ordem “sujeito-verbo-objeto”, que nos parece tão evidente e lógica, tampouco é comum a todas as línguas. Em alemão e em japonês, o verbo vai no fim da frase.

  Nenhum desses traços particulares é problema para o falante nativo. O estrangeiro é quem sofre para aprender uma nova língua. Você talvez esteja cuspindo no professor de inglês para aprender a pronúncia do “ th” em think, ou está enrolado nas conjugações do francês, ou desistiu do alemão por causa das declinações. Isso ainda não é nada. Em cantonês (uma das línguas da China) e vietnamita, todas as palavras são monossilábicas, e o falante emprega diferentes tons para diferenciar uma palavra da outra. A sílaba yau, em cantonês, pode significar – entre outras coisas – óleo, magro ou amigo, dependendo do tom empregado. Isso exige uma sensibilidade auditiva que os falantes de línguas eslavas, germânicas ou românicas não desenvolvem. A narração monocórdia dos locutores da Voz do Brasil transformaria o cantonês em uma sopa de sons indiscerníveis.
  O tom não é o único recurso fonético que não empregamos. Xosa, o idioma de Nelson Mandela na África do Sul, emprega estalos como um elemento lingüístico.
Este é o momento de derrubar um possível preconceito: o de que as línguas dos povos primitivos seriam mais simples. A gramática do cree, um dos inúmeros idiomas nativos norte-americanos, era tão complexa que as crianças só adquiriam proficiência completa lá pelos 10 anos de idade. [...]

TEIXEIRA, Jerônimo. Letras ao leu. Superintessante, São Paulo: Abril, out 2002. (fragmento)